Hora eTempo em Porto Alegre / RS

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008


Eu começo a reorganizar minhas idéias aos poucos, mas ainda revoltado por minha existência estar sempre atrelada a uma condição de conformidade. Em todos os sentidos. A conformidade com os complexos existenciais, com as várias incapacidades que me enfraquecem, com as várias pessoas que eu gostaria que me amassem mais, com a auto-suficiência dos meus fraternos amores solitários. E esse tipo de amor fraterno que preciso, associo à disponibilidade de me ouvir nos meus momentos ruins, de me fazer esquecer por alguns momentos que eu não preciso tentar ser um super-heroín pacificador o tempo todo, e de me lembrar que eu posso me entregar às minhas fraquezas sem prejuízo dos que estão ao meu redor. PORQUE EU PRECISO DISSO.

RODA VIVA é também uma ditadura da dúvida, da estabilidade negativa, das falsas figuras que às vezes precisamos representar, da eterna frustração de não ser aquilo que gostaríamos de ser...


Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente, ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva e carrega o destino prá lá

Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente até não poder resistir
Na volta do barco é que sente o quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva e carrega a roseira prá lá

A roda da saia, a mulata, não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata, a roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa, viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva e carrega a viola prá lá

O samba, a viola, a roseira, um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa, faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva e carrega a saudade prá lá...

(Roda Viva – Chico Buarque)


E a cada música ouvida, uma nova moldura para meu silêncio. E a cada música cantada, um renovador repouso para minha alma. E é nessas horas que não sinto frio, calor, fome, sede, raiva, tristeza ou amor. Apenas sinto a música sair de dentro de mim. O único defeito da música? Ela ecoa, mas não volta trazendo respostas; faz o favor de levar minhas dúvidas para devolvê-las assim que volto ao mundo real.


Responder perguntas é fácil. Difícil é ensinar a conviver com as dúvidas, forjar a vida a partir das incertezas, das inconclusões e reticências, permitindo que o mistério sobreviva às constantes invasões da racionalidade, no horizonte de tantas realidades que não são desdobráveis, possíveis de serem dissecadas.
Viver pra responder cansa. Há muito ando lutando para abandonar esse espírito de onipotência que tomou conta de nós. Sentimo-nos na obrigação de dar respostas para tudo. Não sabemos dizer que não sabemos, mas insistimos em falar de coisas que ainda nem acreditamos, só para não termos que enfrentar o desconcerto do silêncio. Falamos porque não suportamos a ausência de respostas.
(...)Respostas não caem do céu, mas são geradas no processo histórico que o ser humano realiza. Viver é maturar, é amadurecer, é superar horizontes, acolher novas possibilidades e descobrir respostas onde não imaginávamos encontrar.
Conviver com dúvidas requer maturidade, e isso não é aprendizado que se dá da noite para o dia. A dúvida de hoje pode ser a certeza de amanhã.
(Pe. Fábio de Melo)


Eu sei que as respostas para as dúvidas demoram a chegar... e se por um instante eu imaginasse que elas não viriam jamais, cantaria até morrer. E sem dúvida alguma, morreria feliz.

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